domingo, 2 de agosto de 2009

A Despedida de Guga em Roland Garros 2008


No domingo de 25 de Maio de 2008, Paris foi o palco escolhido por Gustavo “Guga” Kuerten para seu último jogo oficial. Em Roland Garrros, um dos quatro “Grand Slam” do circuito mundial de tênis, que em 2008 comemora 80 anos, Guga foi rei.


Em 1997 assombrou o mundo com seu primeiro título, em sua primeira participação, aos 20 anos de idade, e desde então o tênis brasileiro e mundial nunca mais foram o mesmo. Com sua roupa azul e amarela, cabelos desajeitados e seu carisma, Guga entrou para sempre no coração parisiense e logo se tornou tri-campeão com os títulos de 2000 e 2001, quando desenhou um coração no saibro parisiense e deitou-se sobre ele.

Ainda no ano de 2000, após duas inesquecíveis vitórias na mesma semana, sobre duas lendas do tênis mundial Pete Sampras e André Agassi, e o conseqüente título da Master Cup de Lisboa, tornou-se o tenista número 1 do mundo, posto que ocupou por 43 semanas.



Com 23 títulos de simples e 8 de duplas, sob o comando de seu treinador e segundo pai Larri Passos, Guga escreveu seu nome para sempre como o maior tenista brasileiro de todos os tempos, juntando-se a eterna Maria Esther Bueno.

A partir de 2002, uma contusão crônica no quadril que o fez passar por duas cirurgias, o impediu de jogar o seu melhor tênis. Como sempre, Guga lutou. Não lhe faltou garra, não lhe faltou esforço. Fez de tudo, mas foi vencido pela dor, e em fevereiro de 2008 anunciou que pararia. Na Costa do Sauípe, na Bahia, onde ganhou por duas vezes o Brasil Open em 2002 e 2004 falou aos prantos “...não é que eu não queira mais jogar, é que meu corpo não agüenta mais.” Suas lágrimas foram compartilhadas por milhares de brasileiros que tiveram em Ayrton Senna e Gustavo Kuerten, seus dois maiores ídolos recentemente.

Bem, voltando a falar do jogo, a quadra principal de Roland Garros, Philippe Chatrier estava lotada. As 15 mil pessoas presentes, a maioria de verde e amarelo, entre brasileiros e franceses, não pararam de gritar “allez Guga”, e foi sob estes gritos de “vamos Guga” que ele entrou ovacionado, com o mesmo uniforme azul e amarelo de sua primeira conquista em 1997. O adversário, pouco importa, mas só para se ter noção do seu prestígio, foi o francês Paul Henri Mathieu, que mesmo jogando em sua terra teve a torcida contra.

E assim Guga se sentiu em casa: sacou, fez “aces”, “winners” de direita e de esquerda, voleou, quebrou o saque do adversário, sentiu dor, foi nobre contestando uma marcação dos juízes, que marcaram bola fora do adversário e ele mesmo corrigiu dando bola boa, e como sempre lutou, e como sempre sorriu e emocionou a todos.

Após quase duas horas de jogo, no último “game” do seu último “set”, salvou um “match-point” e o estádio Philippe Chatrier foi a loucura, como se Guga tivesse marcado um gol de placa. E marcou mesmo. Tinha ganho mais alguns instantes no local onde mais foi feliz: uma quadra de tênis, no saibro de Roland Garros.
O segundo “match-point” contra, não pode evitar: sua esquerda vencedora que outrora lhe rendera muitos títulos ficou na rede e desta vez não foi gol. Um “ahhh...” seguido de um silêncio sepulcral tomou conta da quadra. Mas por pouco tempo. O grito sincronizado de “Guga” voltou a ecoar uníssono.

O placar do jogo, este pouco importa mesmo. Mais importante foi a “ôla” brasileira que Roland Garros conheceu. Um espetáculo inesquecível e indescritível. E foi neste clima apoteótico, sob lágrimas da platéia, num misto de gratidão e saudade que Guga se despediu. E recebeu seu último troféu com todas as camadas da quadra central de Roland Garros.


Au revoir et merci Guga.

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