quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Lua Azul no Reveillon



A véspera do Ano-Novo, 31 de dezembro de 2009, reserva grandes e belas surpresas. Nessa noite, ocorrerá um fenômeno chamado de Lua Azul. Segundo definição popular, uma Lua Azul é a segunda Lua Cheia em um mesmo mês. A frequência de acontecimento é de 1 vez a cada 2 ou 3 anos.

No entanto, de acordo com os cientistas, o nome não está relacionado com a cor do corpo celeste. A Lua Cheia ocorreu em 2 de dezembro e aparecerá novamente a tempo de contagem regressiva do Ano-Novo, na quinta-feira.

A Lua New Year's Eve azul será visível nos Estados Unidos, Canadá, Europa, América do Sul e África. O hemisfério oriental poderá comemorar a virada do ano com um eclipse lunar parcial. O eclipse não será visível nas Américas.

O fenômeno é raro e não acontece todos os anos. A última vez ocorreu dia 31 de maio de 2007. Luas New Year's Eve azuis são ainda mais raras, ocorrendo a cada 19 anos. A última vez foi em 1990, o próximo será em 2028. O fato ocorre devido ao ciclo lunar de 29.5 dias, o que torna perfeitamente possível que em um mesmo mês sua fase se apresente cheia por duas vezes.

Fevereiro é o único mês impossível de se ter a Lua Azul, mesmo em anos bissextos. Inclusive é possível um ano não ter Lua Cheia no mês de fevereiro, nesses anos, acontece uma Lua Cheia no final de janeiro e a outra no início de março, ou seja, 2 Luas Azuis no mesmo ano, em janeiro e março. Isto ocorre em média a cada 35 anos. As Luas azuis não têm nenhum significado astronômico.

Feliz 2010




Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.
 
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Feliz Natal





Melhor do que todos os presentes debaixo da árvore de Natal é a presença de uma família feliz!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Eternidade



Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.

Cecília Meireles

sábado, 12 de dezembro de 2009

Rio



Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem.

Bertold Brecht

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Poesia



Enquanto houver uns olhos que reflectem
outros olhos que os fitam,
enquanto a boca responda a suspirar
aos lábios que suspiram,
enquanto sentir-se possam ao beijar-se
duas almas confundidas,
enquanto exista uma mulher formosa,
haverá poesia!

Gustavo Adolfo Bécquer

Um Beijo



Sobre o regaço tinha
o livro bem aberto;
tocavam em meu rosto
seus caracóis negros.

Não víamos as letras
nem um nem outro, creio;
mas guardávamos ambos
fundo silêncio.

Por quanto tempo? Nem então
pude sabê-lo.
Sei só que não se ouvia mais que o alento,
que apressado escapava
dos lábios secos.

Só sei que nos voltámos
os dois ao mesmo tempo,
os olhos encontraram-se
e ressoou um beijo.

Gustavo Adolfo Bécquer

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

A Vida



A vida, tal qual a Lua, vive de fases

Às vezes estamos bem, crescendo, crescente, cheios. De tudo: coragem, confiança, glórias.

Repentinamente, como num passe de mágica, magia negra talvez, começamos a decrescer, minguar, até paracermos totalmente sucumbidos a escuridão.

Mas eis que em outro passe de mágica, magia branca, voltamos a nos encher de esperança novamente, inicialmente apenas um fiozinho brilhante, que nos empurra novamente ao estrelato.

Porém, minguante ou cheia, a Lua continua a empurrar as marés e influenciar o mundo, mesmo que invisivelmente aos nossos olhos.

Assim é a vida. E para todos nós.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Conselho de um velho apaixonado



Quando encontrar alguém e esse alguém fizer
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa
mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo
for apaixonante, e os olhos se encherem
d'água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês.

Se o 1º e o último pensamento do seu dia
for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça:
Algo do céu te mandou
um presente divino : O AMOR.

Se um dia tiverem que pedir perdão um
ao outro por algum motivo e, em troca,
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos
e os gestos valerem mais que mil palavras,
entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa
sofrer o seu sofrimento, chorar as suas
lágrimas e enxugá-las com ternura, que
coisa maravilhosa: você poderá contar
com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir, em pensamento, sentir
o cheiro da pessoa como
se ela estivesse ali do seu lado...

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos,
chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...

Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado...

Se você tiver a certeza que vai ver a outra
envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção
que vai continuar sendo louco por ela...

Se você preferir fechar os olhos, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes
na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.

Às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais, deixam o amor passar,
sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !!!

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 28 de novembro de 2009

Desejo



Desejo primeiro que você ame
E que amando, também seja amado
E que se não for, seja breve em esquecer
E que esquecendo, não guarde mágoa

Desejo, pois, que não seja assim
Mas se for, saiba ser sem se desesperar
Desejo também que tenha amigos
Que mesmo maus e inconseqüentes
Sejam corajosos e fiéis
E que pelo menos em um deles
Você possa confiar sem duvidar

E porque a vida é assim
Desejo ainda que você tenha inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exata para que
Algumas vezes você se interpele
A respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles
Haja pelo menos um que seja justo

Desejo depois, que você seja útil
Mas não insubstituível
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente
Para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante
Não com os que erram pouco
Porque isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Você sirva de exemplo aos outros

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais
E que sendo maduro
Não insista em rejuvenescer
E que sendo velho
Não se dedique ao desespero
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor

Desejo, por sinal, que você seja triste
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia
Descubra que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso
E o riso constante é insano.

Desejo que você descubra
Com o máximo de urgência
Acima e a respeito de tudo
Que existem oprimidos, injustiçados e infelizes
E que estão bem à sua volta
Desejo ainda
Que você afague um gato, alimente um cuco
E ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, você se sentirá bem por nada

Desejo também
Que você plante uma semente, por menor que seja
E acompanhe o seu crescimento
Para que você saiba
De quantas muitas vidas é feita uma árvore

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro
Porque é preciso ser prático
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente e diga:
"Isso é meu"
Só para que fique bem claro
Quem é o dono de quem

Desejo também
Que nenhum de seus afetos morra
Por eles e por você
Mas que se morrer
Você possa chorar sem se lamentar
E sofrer sem se culpar

Desejo por fim
Que você sendo homem, tenha uma boa mulher
E que sendo mulher, tenha um bom homem
Que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja amor pra recomeçar
E se tudo isso acontecer
Não tenho mais nada a lhe desejar

Victor Hugo

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sim, Sei Bem



Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

Fernando Pessoa

domingo, 22 de novembro de 2009

Orgulho




Espreitava em seus olhos uma lágrima,
e em meus lábios uma frase a perdoar;
falou o orgulho, o seu pranto secou,
senti nos lábios essa frase expirar.

Eu vou por um caminho, ela por outro;
mas, ao pensar no amor que nos prendeu,
digo ainda: porque me calei aquele dia?
E ela dirá: porque não chorei eu?

Gustavo Adolfo Bécquer

Autopsicografia



O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

sábado, 21 de novembro de 2009

Realidade



Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...

Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...

Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei...se te perdi...

Florbela Espanca

ATP Finals



Federer e Nadal: todos querem seus dois lugares

Tudo pronto na terra da Rainha.

Amanhã, em Londres, inicia-se o último torneio da ATP do ano, o ATP Finals, para o seleto grupo dos 8 melhores tenistas do mundo. A única ausência será Andy Roddick, #6 do mundo, que não disputará o torneio em virtude de contusão. Em seu lugar entrou o felizardo Robin Soderling, #9 do ranking.

O torneio é disputado em sistema de grupos, com 4 jogadores em cada, jogando entre si, e classificando-se para as semifinais os dois melhores de cada grupo, assim divididos:

Grupo A
Roger Federer #1
Andy Murray #4
Juan Martin del Potro #5
Fernando Verdasco #8

Grupo B
Rafael Nadal #2
Novak Djokovic #3
Nikolay Davydenko #7
Robin Soderling #9

Rafael Nadal, #2 do mundo, ainda tem uma pequena chance de terminar o ano como #1 do mundo, tomando o trono de Roger Federer. A diferença entre eles é de 945 pontos, com 1.500 pontos em jogo no ATP Finals.

Para Federer, basta ganhar seus 3 jogos da fase de grupos, totalizando mais 600 pontos, para assegurar o #1. Para Nadal, a missão é bem mais complicada: tem que ser campeão invicto do torneio e torcer para Federer ganhar apenas 2 jogos na fase de grupos, e ser eliminado já nas semifinais.

Federer e Nadal: olho no olho



Novak Djokovic, o tenista sensação deste final de temporada, campeão do torneio ano passado (antiga Master Cup) e que vem do título do Master 1000 de Paris na semana passada, tem ainda uma remota chance de terminar o ano como #2 do mundo: para isso terá que ganhar o torneio invicto e torcer para Rafael Nadal não vencer nenhum de seus jogos.

Amanhã o grupo A começa com Federer x Verdasco e Murray x Del Potro. Na segunda-feira será a vez do grupo B, com Nadal x Soderling e Djokovic x Davydenko. Os jogos serão disputados na Arena O2, um moderno complexo poliesportivo londrino, que também será sede de jogos nas Olimpíadas de 2012.

Deus salve a Rainha!


Equilíbrio



Nós temos cinco sentidos:
são dois pares e meio de asas.

- Como quereis o equilíbrio?

David Mourão-Ferreira

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Foi Um Momento





Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?

Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve!...

Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há uma coisa
Incompreendida...

Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?

Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.

Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Amnésia



Não me lembro se um dia eu existi
Sem estares ao meu lado.
Lembro-me de ter nascido
E confesso-me estarrecido:
Dize-me como é possível eu ter-te
Sem nunca ter te perdido?

Anjo



Se dos meus olhos
Só saísse brilho,
Se eles não marejassem
E não chorassem,
Se da minha boca
Só saísse beijos,
Se ela não mordesse
E não gritasse,
Se das minhas mãos
Só saísse carinho,
Se elas não batessem
E não machucassem,
Se os meus pés
Só seguissem o caminho,
Se eles não tremessem
E não fraquejassem,
Se no meu peito
Só tivesse amor,
Se não tivesse mágoa
E nem rancor,
Eu poderia ser como tu
E o teu candor.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Sou Um Evadido




Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

Fernando Pessoa

Tenho Tanto Sentimento



Tenho tanto sentimento
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.

Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeira
E qual errada, ninguém
Nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

sábado, 14 de novembro de 2009

Reflexo



Eu sou, meu amor
O que tu és:
Sou solidão
E companhia
Sou desespero
E calmaria
Sou tua glória
E teu revés.

Eu serei, meu amor
O que tu fores:
Serei angústia
E paz
Serei lágrima
E sorriso
Serei espinho
E flores.

Eu quero, meu amor
O que tu queres
E se um dia
Não mais me quiseres
Não mais serei eu
E serei tu na despedida.
Que queres, meu amor
Se pra mim
És tu a vida?

Os Versos que Te Fiz



Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem para te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim para te oferecer

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda.
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

* Florbela Espanca

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Fanatismo



Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

"Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»

* Florbela Espanca

Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de Dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de Dezembro de 1930), batizada com o nome Flor Bela de Alma da Conceição, foi uma poetisa portuguesa. A sua vida de trinta e seis anos foi tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ninguém


Que ninguém me veja.
Falo dos teus olhos,
Que me vêem melhor do que eu sou.
Que ninguém me escute.
Falo da tua voz,
Que me dizem palavras que eu não mereço.
Que ninguém me pegue.
Falo do teu toque,
Que me sente mais do que eu me sinto.
Que ninguém me abrace.
Falo do teu corpo,
Que completa o que faltava no meu.
Que ninguém te veja, te escute, te pegue, te toque ou te abrace.
Só eu.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ilusão


"E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente.
Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre."

Autor Desconhecido

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Cântico II



Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
Não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu.

Cecília Meireles

domingo, 1 de novembro de 2009

Beija-flor


Eu te amo
Como o beija-flor ama sua flor.
Com o mesmo empenho que o João-de-barro
Carrega a terra e constrói o seu ninho de amor.
Eu te amo
Como a brisa da praia empurra suas ondas pra areia,
E o mar traz de volta.
Como a mesma brisa empurra as velas dos barcos pra longe,
Mas sempre traz de volta o pescador.
Eu te amo
Como a lua que carrega a maré para onde for,
Como o sol que aquece seu mundo inteiro com seu calor.
Eu te amo
Como tu me amas com teu amor.
Eu te amo
Como eu te amo e com todo meu amor.

sábado, 31 de outubro de 2009

Ausência


Dei-te meu coração virgem de amor
Todo cheio de afeto e confiança
Sem malicia e sem pensar na dor
Como um jardim repleto de esperança

E agora que a ausência se anuncia
Vivo sofrendo chorando de amargor
O coração coitado em agonia
Vendo partir o seu querido amor

Pensando na distancia tenho medo
Que tu faças de mim qual a criança
Deixando ao esquecimento o seu brinquedo

Oh! Não posso crer
Porque serei eternamente triste
E eternamente serás o meu amor

Dejanira Pinheiro Coelho - minha vovó Deja

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

As Quatro Estações


Ainda era primavera quando eu a esperava.
Como de costume,
Os botões agora eram flores
E de suas pétalas exalava o perfume,
E de seu néctar fazia-se o mel.
Parecia tudo perfeito.
Mas o tempo foi passando e ela não veio.
E as flores murcharam e caíram.

E chegou o verão, e com ele veio o sol.
Este brilhava e iluminava,
Mas eu ainda não conseguia vê-la.
E com tanto sol, vieram as miragens,
Mas ela não estava em nenhuma delas,
Teimava em se esconder.
E assim, o sol, cansado de tanto brilhar,
Foi perdendo sua força.

E as folhas, também enfraquecidas,
Não resistiram a tanta espera,
E se desprenderam de seus ramos,
Abandonaram seus galhos, sucumbiram ao chão.
E veio o outono.
E na mesma razão em que as árvores perdiam suas folhas,
Uma parte de mim, talvez a melhor delas,
Também se perdia nesta eterna solidão.

E o tempo novamente passou,
E mais uma vez ela não veio,
Mas sim, o frio e as chuvas, e, enfim, o inverno.
Este, a cada dia que se passava sem que ela chegasse,
Ia ficando cada vez mais rigoroso e arrasador,
Destruindo sem piedade
A outra parte daquela parte
Que se perdera no outono.

Mas, foi justamente
Quando tudo parecia perdido,
Quando quase não havia mais esperança,
Pois quase não mais havia vida,
Que ela chegou,
Trazendo na mão um cobertor.
Agasalhou-me,
Amou-me...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Outono


Vejo uma árvore desnuda
De folhas caducas
A atravessar o outono
Tremendo de frio,
E apenas sorrio.
Por trás de um suposto abandono
Percebo seu grande exemplo:
Sobreviver por um tempo.
O outono não é eterno.
Nem o inverno.
E depois desta espera
Que muito lhe causa dor
Virá a primavera
E de novo sua flor.

E se ao olhares
Esta árvore desnuda,
De folhas caducas
A atravessar o outono,
Tremendo de frio
Em suposto abandono,
E a imaginares
Repleta de flor,
Como numa manhã de primavera,
Estará tua vida em cor,
E mais te espera:
Estará repleta de amor.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Controversa



A vida
É assim um tanto controversa,
E causa certa ilusão:
É possível se encontrar oásis no deserto
E morrer de sede no oceano,
Numa grande contradição.
Por certo,
Sendo assim tão controversa,
É que na vida versa,
Ano a ano, o sonhador:
Que é capaz de viver a vida toda
À procura da flor,
E ao achá-la, morrer de amor!

domingo, 25 de outubro de 2009

Chamo-te


 
Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio
E suportar é o tempo mais comprido.

Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,
Que um só dos teus olhares me purifique e acabe.

Há muitas coisas que eu quero ver.

Peço-Te que sejas o presente.
Peço-Te que inundes tudo.
E que o teu reino antes do tempo venha.
E se derrame sobre a Terra
Em primavera feroz precipitado.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Olhos Negros




Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta
De noite cantando, — mais doce que a flauta
Quebrando a solidão,

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; — causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece
Me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa — a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto com um véu.

Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram em causa
Um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
Com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.

Gonçalves Dias

Nasci-te



No meu ventre de mulher cresceu teu feto
e foi a minha boca que te deu palavras
e silêncios para tu gritares

Dos meus braços multipliquei teus braços
e dei distâncias para tu voares

Dei-te tempos-de-nada
medidos de coragem

E foste. E és.


Manuela Amaral - Poetisa portuguesa

* Homenagem e reconhecimento a minha mãe.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Soneto ao Meu Amor XIII


Navega-me o corpo em mar aberto
Em açoites de ondas e marés
Assim sou oceano e és por certo
Um barco inamissível de mil pés

Desliza-te teu casco com firmeza
Minhas ondas agora são espuma
Que te invade com alma e pureza
Enquanto a brisa sopra-te a bruma

Lá no encontro do mar com o horizonte
Ouve-se o apagar do sol aflito
Ao emprestar à lua, a luz da fonte

E na espera de um novo amanhã
Sigo-te o leme rumo ao infinito
Derramo-me, em ti, catamarã

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Mudança


Hoje acordei diferente.
Talvez mais velho,
Ou um pouco mais experiente.
Talvez mais sábio,
Ou um pouco mais consciente.
Talvez mais calmo,
Ou um pouco mais paciente.
Talvez mais culto,
Ou um pouco mais inteligente.
Talvez mais teimoso,
Ou um pouco mais persistente.
Talvez menos puro,
Ou um pouco mais indecente.
Mas tudo isso não importa,
O que importa realmente,
É que não sou mais aquele menino inocente.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Amor e Amizade



Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos os sentimentos coexistem
dentro do seu coração.

William Shakespeare

*Recebi esta mensagem do meu amor e amiga. E paixão!

Soneto ao Meu Amor XII


A rosa que de ti perfume exala
Mais bela que de todas já surgiu
Enche-me de vontade de regá-la
E cuido para ser-lhe tão gentil

É linda no buquê que se compõe
Pétalas entreabertas e vermelhas
Formosa no favor que se dispõe
Ao abrir o botão de suas celhas

Regada toda noite ao orvalho
Habita o melhor canto do jardim
E abraça a madrugada no seu galho

Só posso admirá-la com fervor
De certo foste tu que deste a mim
Minha prova, como a rosa, de amor

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Quarto Crescente



Ando,
Vago,
Absorto no mundo,
Divago.
Manco,
De dor,
Suplico um remédio,
Uma flor.
Vagabundo,
Sem par.
O tédio
A me acompanhar.
Quem diria?
O sol
Já nasceu
E se foi.
E a noite
Desceu
E foi fria.
O céu
Renova
Noite a noite
Sua teia
De estrelas.
Belas,
Supernovas.
A lua
Descrente
Foi nova
Foi quarto
Foi cheia.
E no teu quarto
Eu me acho.
Crescente,
Capacho.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Dia das Crianças





Hoje é Dia das Crianças!
E nada na vida se compara a ser criança.
Nada é tão alegre, espontânea, sincera e representa tão bem a vida como uma criança.
Acho que temos a chance de viver a vida três vezes: como filhos, como pais e como avós.
Como filhos somos crianças, como pais achamos que ensinamos as crianças, e imagino que como avós vejamos que fomos nós que aprendemos com as crianças.
Como filho fui criança, e vivi a vida como deveria viver.
Como pai acho que ensino muito a minha filha, mas aprendo a cada dia com ela.
Faz parte do caminho natural da vida o crescimento, o amadurecimento e o envelhecimento.
Mas se pudermos estar sempre com uma criança dentro de nós, também fará sempre parte deste caminho o rejuvenescimento.
Agradeço aos meus pais por terem me permitido ser criança e a minha filha por me rejuvenescer a cada dia e me ensinar que a vida tem que ser vivida com fervor.

Feliz Dia das Crianças meu amor!

"S" de Socorro



É isso aí!
Como a gente achou que ia ser
A vida tão simples é boa
Quase sempre
É isso aí!
Os passos vão pelas ruas
Ninguém reparou na lua
A vida sempre continua

Eu não sei parar de te olhar
Eu não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não sei parar
De te olhar

É isso aí!
Há quem acredite em milagres
Há quem cometa maldades
Há quem não saiba dizer a verdade
É isso aí!

Um vendedor de flores
Ensinar seus filhos a escolher seus amores
Eu não sei parar de te olhar
Não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não vou parar de te olhar
É isso aí!

Há quem acredite em milagres
Há quem cometa maldades
Há quem não saiba dizer a verdade

É isso aí!
Um vendedor de flores
Ensinar seus filhos a escolher seus amores

Eu não sei parar de te olhar
Eu Não sei parar de te olhar
Não vou parar de te olhar
Eu não me canso de olhar
Não vou parar de te olhar

(Ana Carolina)

* Uma homenagem da vovó Socorro a pequena Giulia por seu dia!

sábado, 10 de outubro de 2009

Soneto ao Meu Amor XI


Bebo-te um pouco em todas as noites
E espero que tua fonte nunca seque
Como a chuva, que cai com seus açoites
E cobre sempre a terra com seu leque

E é quando a noite dobra-se de frio
Molhada dessa chuva na janela
Que mais vontade dá-me ao desafio
De beber-te a boca, ardente e bela

Tomo-te então nos braços com desvelo
Do teu corpo são minhas mãos devotas
E preparo-te assim pura, sem gelo

Bebo-te o cálice tinto de cor
E chove-te então tua pele em gotas
Numa noite fria, quente de amor

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Soneto ao Meu Amor X



Só dos meus lábios hás de ter os beijos
Nas travessuras das noites eternas
A transformar o teu corpo em desejos
Loucos de enfim confundir nossas pernas

Só das minhas mãos hás de ter carícias
A te sentir qual te sente o vestido
A te tocar no teu corpo em primícias
Antes de tê-lo em meus braços despido

Só do meu corpo hás de ter calor
A te aquecer toda noite de frio
E a te cobrir n’outras noites de amor

Só deste amor é que hás de viver
Eternamente neste desvario
E só do meu amor hás de morrer

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sonhos


Sonho sempre contigo.
Às vezes sonho só contigo,
E eu nem estou lá.
Mas tu estás.
Mas nunca sonho comigo,
Sem estar contigo.

Eu que sou feio, sólido, leal



Eu que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa de um café devasso,
Ao avistar-te, há pouco fraca e loura,
Nesta babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorrestes um miserável,
Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.

«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez que não o suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.
...
Soberbo dia! Impunha-me respeito
A limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar o teu peito.

Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas branca, esbelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.

«Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, parastes embaraçada
Ao pé de um numeroso ajuntamento,

E eu, que urdia estes frágeis esbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Um pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.

E foi, então que eu, homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.

Cesário Verde

Arrojos



Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.

Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos "mignonnes" e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.

Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.

Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.

Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.

Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.

Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.

E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho. 


Cesário Verde

Cesário Verde




José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa, em 25 de Fevereiro de 1855.

Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, frequentando por apenas alguns meses o curso de Letras. Ali conheceu Silva Pinto, grande amigo pelo resto da vida.

Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as atividades de comerciante, herdadas do pai.

De poesia delicada, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, seus cenários prediletos. Evitou o lirismo tradicional, expressando da forma mais natural possível.

A supremacia exercida pela cidade sobre o campo leva o poeta a tratar estes dois espaços em termos dicotómicos. O contacto com o campo na sua infância determina a visão que dele nos dá e a sua preferência.

Deambulando pelos dois espaços, depara com dois tipos de mulher, que estão articulados com os locais. A cidade maldita surge associada à mulher fatal, frígida, frívola, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos. Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino, por exemplo em "A Débil", que é o oposto complementar das esplêndidas aristocráticas, presentes em poemas como "Deslumbramentos" e "Vaidosa". Essa mulher é frágil, terna, ingénua e despretensiosa.

Outra perspectiva nos é mostrada da mulher (desfavorecida) no campo . A vendedora em "Num Bairro Moderno", ou a engomadeira em "Contrariedades" mostram as características da mulher do povo no campo. Sempre feias, pobres e por vezes doentes, ou em esforço físico, as mulheres trabalhadoras são objecto da admiração de Cesário.

Podemos afirmar a sua aproximação a várias estéticas. Assim, se se tiver em conta o interesse pela captação do real, pelas cenas de exterior, por quadros e figuras citadinos, concretos, plásticos e coloridos, é fácil detectar aqui a afinidade ao Realismo.

A ligação aos ideais do Naturalismo verifica-se na medida em que o meio surge determinante dos comportamentos.

Pela objectividade dos temas, baseados na natureza e no quotidiano, assim como pelas formas exatas e corretas, podemos ver afinidades com o Parnasianismo. 

Em 1877 lhe começou a dar sinais a tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes servem de inspiração a um de seus principais poemas, Nós (1884).

Tenta curar-se da tuberculose, sem sucesso; vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886.

No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde (disponível ao público em 1901), compilação de sua poesia.

sábado, 3 de outubro de 2009

Rio 2016 - Boas Notícias para o Tênis




Com a eleição do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o Brasil pode finalmente ganhar um centro específico para o tênis.

Está nos planos da candidatura carioca a construção do Centro Olímpico de Tênis, que segundo os organizadores ficará de legado para que o Brasil possa utilizá-lo após as Olimpíadas como centro de treinamento e para a instalação de grandes eventos de tênis.

Projeto do Complexo de Tênis


Ultimamente o tênis revelou uma sintomática tendência: o país sede dos Jogos Olímpicos leva também um grande torneio. A China organizou o Masters Cup, até a realização da Olimpíada de Pequim, e agora Londres, que será sede das Olimpíadas de 2012, tem seu primeiro ano do Masters Cup.

Outra possibilidade é um torneio menor que o Masters Cup, como um Master 1000 ou um Master 500. Atualmente só temos um torneio do nível ATP, que é o Brasil Open - ATP 250, realizado anualmente na Costa do Sauípe - BA, no mês fevereiro. Torneio este que já teve dois #1 do mundo como campeões: Guga em 2002 e 2004 e Rafael Nadal em 2005.

O projeto olímpico prevê a construção de um complexo com um total de 16 quadras, sendo a principal delas com capacidade de abrigar 10 mil espectadores. Também haverá uma quadra secundária para 5 mil torcedores e outra para 3 mil. As demais terão capacidade de 250 pessoas.

O Centro Olímpico de Tênis ficará em uma área de 10 hectares (10 mil metros quadrados), onde atualmente se encontra o Autódromo de Jacarepaguá, ao lado da Arena Olímpica e do Centro Aquático Maria Lenk, que foram construídos especialmente para o Pan e também abrigarão os Jogos Olímpicos de 2016.