sábado, 25 de dezembro de 2010

Ausência


Tio Dedé se foi sem que eu pudesse me despedir dele.
Talvez melhor assim, pois o que eu poderia dizer a ele na hora da partida?
Só uma coisa me vem à cabeça:

- Tio Dedé, por favor, não vá.
(sim, era assim que eu o chamava – Tio Dedé, com minha voz de menino).

E o que ele poderia me dizer? Talvez me dissesse:

- Jota, eu preciso ir.
(sim, era assim que ele me chamava – Jota, com aquela sua voz inconfundível).

E aí só me restaria perguntar:

- Mas assim tão cedo, já vai pra onde?

Parece óbvio, eu sei, ninguém nunca quer que nenhum ente querido se vá.
Mas Tio Dedé era diferente.
Sim, ele era diferente porque era especial.
Boa parte das férias de minha infância eu passei lá na sua casa em Juazeiro do Norte com meus primos.
Momentos inesquecíveis, que como tais, guardo-os até hoje em minha lembrança.
Com Tio Dedé eu entendi literalmente o significado do 4º Mandamento da lei de Deus: Honrar Pai e Mãe.
Todas as noites, fazendo chuva ou fazendo lua, lá íamos nós de Juazeiro a Barbalha.
As crianças, e depois adolescentes, Djalma, Sandro, Alan e eu íamos para brincar, jogar bola, e depois paquerar.
Às vezes também ia Tia Irismar, às vezes Caroline, e depois Frank e Maiko.
Mas durante todos esses anos Tio Dedé sempre foi para visitar Vovô Chico e Vovó Dja.
Todo santo dia e todo dia Santo.
Essa abnegação, que pouco a pouco fui me dando conta, é sem dúvida nenhuma a prática mais fidedigna do 4º Mandamento da Lei de Deus.
Imagino o vazio que ele sentiu quando não pôde mais ir todas as noites para Barbalha.
Não porque não quisesse, não porque não pudesse.
Simplesmente porque Vovó Dja e Vovô Chico não estavam mais lá.
Imagino se naquela casa na Rua da Matriz de Barbalha, onde ainda hoje mora Dadá, a sala permanece preenchida com um quadro de uma foto de Tio Dedé sentado, de bigode, cabeleira preta e de olhos bem abertos.
Imagino também se aquela foto não teria um significado bem maior do que ser um simples enfeite na parede.
Creio que ela representa exatamente o que foi Tio Dedé enquanto morou em Juazeiro: um guardião incansável de seus pais.
Agora vejo que não há nada que nenhum de nós pudesse ter feito para convencê-lo a não nos deixar nesse momento.
Eu sei para onde ele foi.
Ele foi fazer o que sempre o fez feliz.
Foi visitar Vovô Chico e Vovó Dja.

- Feliz Natal Tio Dedé, aonde quer que esteja.

Do seu sobrinho,

Jota

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