Proteja a dor que te assola,
Não dela, e a ela dê sustento.
Proteja, evite apenas não morreres,
E também não suportá-la fácil.
Ela, ao fim de seu recado, pendor,
Terá falido tuas mentiras
Na mascara que levas.
Devia morrer-se de outra maneira. Transformarmo-nos em fumo, por exemplo. Ou em nuvens. Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: "Fulano de tal comunica a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio". E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimônia, viríamos todos assistir a despedida. Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. "Adeus! Adeus!" E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes... primeiro, os olhos... em seguida, os lábios... depois os cabelos... a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo... tão leve... tão sutil... tão pòlen... como aquela nuvem além vêem? — nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis...
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