E 2010 se finda com desagradáveis surpresas. Lá em Brasília, no apagar das luzes, os deputados se deram de presente um aumento de 61,8% no próprio salário.
Com o reajuste aprovado, o salário sobe de R$ 16,5 mil para R$ 26,7 mil. Somando-se todas as vantagens, todos os meses, o mandato de cada deputado federal custará aos cofres públicos entre R$ 116 mil a R$ 131 mil. O de senador, de R$ 130 mil a R$ 159 mil por mês. Assim, o custo anual de um senador poderá chegar a R$ 1,9 milhão.
A nova remuneração é igual à dos ministros do Supremo Tribunal Federal e será paga também à presidente da República, seu vice e todos os ministros da Esplanada. Façam as contas...
A auto-benevolência vai provocar um impacto de R$ 1,8 bilhão nas contas dos municípios na próxima legislatura, segundo cálculo da Confederação Nacional dos Municípios. Isso leva em consideração o efeito cascata do reajuste, pois deputados estaduais e vereadores terão seus salários aumentados proporcionalmente.
E para não ficar atrás, a festa de posse da nossa Presidente vai custar R$ 1,5 milhão aos cofres públicos, ou, em outras palavras, ao nosso bolso. Alguém aí foi convidado? E ainda tem gente que acha que o único palhaço é o Tiririca. Sei...
Mas se Brasília nada em dinheiro, o mesmo não acontece com Jequié, e nesse fim de ano parte do funcionalismo viveu dias de angústia, com cortes de vencimentos e atraso no pagamento de salários, coisa que há muito tempo não acontecia.
Infelizmente isso ocorreu logo na melhor época para o comércio: as compras natalinas. Se o servidor não se sentir seguro para comprar e/ou se endividar, o dinheiro não circula, o comércio não vende, não gera ISS, e diminui a arrecadação da própria prefeitura. Olha o efeito cascata aí de novo.
Se imaginarmos um governo como um vôo de avião, é de se esperar que os problemas, se ocorrerem, sejam na decolagem, quando se está na transição de governo, ainda ajustando a equipe e se colocando a par da situação; ou no pouso, quando se tem que fechar todos os pormenores. Mas com 2 anos de governo, voando em velocidade de cruzeiro, que turbulência pode ter atingido esse vôo? É bom apertarmos o cinto...
E esta fartura lá de Brasília contrastando com a secura cá de Jequié me lembrou um verso de um poeta amigo meu chamado Glads:
“E lá no céu de lá, subiram o céu além. Inconseqüente, a mais, na forma de erguê-lo, caiu o céu no chão, caiu no chão de quem, devia tê-lo em mãos, na ordem de mantê-lo. E cá, no céu de cá, no meu que toco a vida, aquém, desceram tanto, abaixo da decência, deitaram em piso sujo, sangraram a ferida, deixaram a céu aberto, exposta a decadência. Dizei-me, se puderes, você que escolheu, fazer a ponte em tempo, e foste à travessia. Caber-se-ia a culpa, do céu que não é seu, após cair a ponte, na sua companhia?”
Mas, para que não entremos no Ano Novo com remorso dessas escolhas, apelemos para Carlos Drummond de Andrade:
“Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.”
Feliz Ano Novo!
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