quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Coluna Jornal de Jequié: Nós, Nordestinos



A eleição de Dilma Rousseff desencadeou uma onda inadmissível, mas nem tão surpreendente assim, de preconceito contra os Nordestinos desse nosso Brasil. Ou seria xenofobia?

"Nordestino não é gente. Faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado", escreveu a estudante de Direito Mayara Petruso em seu perfil no Twitter. E daí seguiu-se os mais variados absurdos, disseminando um ódio injustificável contra nós, Nordestinos.

Mas apesar de tudo, não achei surpreendente estas declarações. Surpreendeu-me sim, sua motivação fútil e sua repercussão na mídia mundial. O preconceito sempre existiu, e a moça só fez escancarar. Pois desde que o Brasil é Brasil, sofremos historicamente com isso. Ou não foi assim?

Para não nos alongarmos muito, lembremos apenas da política do café-com-leite, um acordo de revezamento do poder nacional executada na República Velha entre 1898 e 1930, onde os presidentes se alternavam entre os estados de São Paulo - mais poderoso economicamente devido à produção de café - e Minas Gerais - maior pólo eleitoral do país da época e produtor de leite.

Assim, o Federalismo no Brasil funcionava diferente de todo o mundo: o poder estava concentrado apenas em dois Estados da Federação. Não é difícil imaginar o que aconteceu, e o preconceito foi o menor dos nossos problemas à época.

Ao manter para si toda riqueza gerada, São Paulo, mais ainda que Minas Gerais, investiu fortemente em sua infra-estrutura e cresceu assombrosamente, financiando seu próprio sucesso através de empréstimos, depois pagos pelo Governo Federal do gaúcho Getúlio Vargas.

O mesmo não ocorreu com outros estados, especialmente no Nordeste, ainda mais empobrecidos devido à fraca distribuição de recursos por parte do Governo Federal. Assim, passaram a fornecer migrantes (Nós, Nordestinos!) para o estado de São Paulo e para outros da região Sudeste. As cicatrizes desta política foram profundas e determinam até hoje o andamento do país. Pois como visto, esta realidade não mudou.

Apenas a título de curiosidade, José Serrá é paulista e Dilma Rousseff é mineira!

Cara paulista Mayara, se um dia tu ti formares, como gente, principalmente, poderás dizer que és colega do baiano Ruy Barbosa, grande jurista brasileiro. Ou do cearense Clóvis Beviláqua, o maior jurista do Brasil, que escreveu, pasma, o Código Civil Brasileiro, este mesmo que tu estudas. Ou pelo menos deverias.

Um pouco de cultura também cairia muito bem. Lê o baiano Jorge Amado, o alagoano Graciliano Ramos, o pernambucano João Cabral de Melo Neto, os cearenses Rachel de Queiroz e José de Alencar, o paraibano José Lins do Rego, e tantos outros.

Mas o fato, a despeito de toda imbecilidade da declaração da universitária paulista Mayara Petruso, é que ela não sabe nem fazer conta. Dilma Rousseff ganharia a eleição com ou sem o Nordeste. A imensa maioria de votos que ela teve por aqui só fez aumentar a diferença já obtida por lá.

Mas não escrevo este texto para falar de política, nem fazer apologia a nenhum candidato. Nem para criar uma onda de repúgio ou “vingança” contra os paulistas que elegeram deputado um palhaço Nordestino com mais de 1 milhão de votos.

Somos todos Brasileiros e escrevo apenas para citar Euclides da Cunha em Os sertões: "O Sertanejo é antes de tudo um forte".

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